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OPINIÃO: A minha copa do mundo

A minha copa do mundo, mistura futebol e economia. A minha copa foi a copa dos Estado Unidos, a de 1994. Na época eu tinha 11 anos. O ano 1994 tinha tudo para ser ruim, triste e doloroso. Aliás, nunca mais os domingos foram os mesmos. A morte precoce do ídolo Ayrton Senna abalou e foi como se todos os brasileiros tivessem perdido um irmão. A Copa representava a esperança e a redenção da seleção que ficou 24 anos sem um título mundial. Na economia ocorreram mudanças, no meu entendimento mudanças histórias. O Brasil foi o país com a maior inflação em todo o mundo. Essa difícil trajetória só foi interrompida em 1994, com a implantação do Plano Real. O Plano Real, possibilitou a tão sonhada estabilidade nos preços.

Depois dele, poderíamos parcelar, ter cartão de crédito e abandonar o hábito de ter despensa em casa. Lembro, muito bem daquela época quando um ministro chegou a afirmar "todo brasileiro vai comer frango e tomar iogurte". O cardápio do Plano Real agora contava com sobremesa. O governo verificou o crescimento do consumo de frango e iogurte pelas classes de baixa renda devido à estabilização dos preços. Para se ter uma ideia em 1993, a inflação foi de 2.477,15% ao ano segundo o Índice Preço do Consumidor Amplo (IPCA). Só no mês de junho de 1994, antes de o real entrar em circulação, a inflação foi de 47,43%. Um carro popular de R$ 35 mil custaria quase R$ 500,00 a mais no dia seguinte. Um ano depois, sairia a R$ 3,74 milhões.

As empresas não conseguiam planejar seus custos, e os salários dos trabalhadores, apesar de ser reajustado mensalmente, não acompanhavam a alta dos preços. Resumidamente o Plano foi dividido em três fases. A primeira ajustou as contas públicas, cortando despesas do governo. A segunda etapa foi a implantação da URV (Unidade Real de Valor), o que os economistas chamam de uma quase moeda. A terceira e última etapa, foi a transformação da URV no real. Os planos anteriores eram feitos de surpresa e em finais de semana. O lançamento do real foi avisado com antecedência de meses e preparado com o uso da URV. Ao meu entendimento a grande virtude do plano. A economia e o futebol se encontram, através do povo brasileiro que passou a ter esperança de dias melhores.

Não que o futebol vai resolver todos os problemas, mas o futebol acaba por unir as pessoas. Os jogos do Brasil, as famílias se encontram, fazem churrasco, comem pipoca, confraternizam uma com as outras. A Copa de 94, assisti com parentes e amigos, no Bairro Perpétuo Socorro, onde cresci torcendo pelo Grêmio e pelo Periquito. Completávamos o álbum de figurinhas das seleções, as ruas eram enfeitadas e os encontros para assistir os jogos eram marcados por telefone residencial, estávamos numa época pré celular e computador sem internet. Se o país atravessa um momento turbulento, uma crise sobretudo ética, o futebol exerce uma iniciativa de união e confraternização.

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